Aquele pé quebra no galho,
o nosso pé brota nas mãos.
Dedos enlaçados num amor-chocalho,
apertados numa multidão de nervos.
É o pé do amor, este (olham-se nos dedos)
que nasce e cresce sem medo.
.
O pé nas mãos germina cedo,
nasce um botão de zelo, para cuidar.
Colorido da diferença dos nossos temperos
num assimétrico coração aberto,
que agora diz, me jurando que é sério:
'Ocupado, coração sem espaço'.
O sorriso é largo, eu mostro os dentes fácil
(ele fita seus dentes e faz ar de mistério).
.
No riso, tiro a sandália e ando descalço na terra.
As cortinas de chita voam, bonitas,
nas casas que estão com a janela aberta.
O pé tá nas mãos, enraizado pós-primavera.
.
Plantados numa multidão de areia e mar,
com chão de pedra, pro cavalo galopar,
você me pede: 'Segura forte minha mão,
não solta nunca mais,
temo a falta que você me faz'
(eles se abraçam bem debaixo do baobá).
'Não censuremos nossas asas',
digo, com o dedo encaixado no seu umbigo.
A gente se beija, eu fico sem ar.
.
Rega de calor, para o pé não secar,
refresco de fim de tarde (olham-se nos passos).
'Me espreme forte entre seus braços'.
Com o pé do amor crescente à lua,
minha vergonha declara em segredo:
'Serei pra sempre seu melhor avesso,
sou pra sempre sua'.
.
(Dão-se as mãos, engalhadas num monte de raízes).
.
Da vontade de ser todo dia um sempre começo,
seguem uma vida toda naquelas ruas.
Levam na bagagem aconchegos, corações e cicatrizes,
umas minhas, poucas nossas, outras suas.
acabou minha bic !
esboços, rabiscos, rascunhos e devaneios.
27 abril 2012
26 março 2012
Feito Farpa
Quero me perder
no aperto do seu abraço.
Quero me sentir sem juízo
e alimentar a minha sede
com o seu sorriso.
Quero mais,
muito mais que isso!
.
Digo no seu ouvido
algumas frases trêmulas e roucas:
Vou me entregar feito louca.
Vou grudar feito farpa.
Vai...
carrega com o seu corpo
todas as minhas marcas.
.
E se me encontrar,
quero me perder de novo,
Sem juras e sem correntes
no silêncio meu, seu...
Nesse eco da gente.
no aperto do seu abraço.
Quero me sentir sem juízo
e alimentar a minha sede
com o seu sorriso.
Quero mais,
muito mais que isso!
.
Digo no seu ouvido
algumas frases trêmulas e roucas:
Vou me entregar feito louca.
Vou grudar feito farpa.
Vai...
carrega com o seu corpo
todas as minhas marcas.
.
E se me encontrar,
quero me perder de novo,
Sem juras e sem correntes
no silêncio meu, seu...
Nesse eco da gente.
'Feito Farpa' | nanquim + texturização digital | texto 1998 | ilustração 2012 Ouça 'Feito Farpa' aqui: |
15 março 2012
Quase Amarela
Quem é aquela
das madrugadas,
nas caminhadas,
sorriso maior que a cara
cor de rosa quase amarela?
.
Com conversas jogadas,
entre os dentes separados,
no meio da língua molhada,
namoradeira acenando na janela...
.
Olhos d'água cheios de vazio,
gotejando sal, cristalizando açúcar,
os cílios dos cantos juntando remelas.
.
Sumida dos meus arredores,
encontrada junto de você.
Aquela que está no seu coração
e no meio das suas pernas.
.
Consumi os meus dias antigos
um depois do outro,
que nem cigarro dos aflitos;
trago quente e descongela.
.
Hoje quero andar por aí sem pensar no depois...
Pois já não sou mais eu,
agora serei ela.
'Quase Amarela' | nanquim + texturização digital | texto 2012 | ilustração 2012 Ouça 'Quase Amarela' aqui: |
23 fevereiro 2012
Choro do Alto
Cortina inquieta no vento,
cabeça no longe do tempo,
coração emudecido em pranto.
.
Tropeço de chuva na nuvem
debulhante sobre a rua
derrama, insone, a lembrança tua.
.
Pingos tempestuosos sucumbem,
transbordam o choro do alto
e somam-se em poças pequenas.
.
Debruço, prosaica, na janela.
Meus olhos misturam sal e chuva
lavando de dentro essa coisa que aperta,
... quisera...
cabeça no longe do tempo,
coração emudecido em pranto.
.
Tropeço de chuva na nuvem
debulhante sobre a rua
derrama, insone, a lembrança tua.
.
Pingos tempestuosos sucumbem,
transbordam o choro do alto
e somam-se em poças pequenas.
.
Debruço, prosaica, na janela.
Meus olhos misturam sal e chuva
lavando de dentro essa coisa que aperta,
... quisera...
''Choro do Alto' | nanquim + texturização digital | texto 2012 | ilustração 2011 Ouça 'Choro do Alto' aqui: |
09 fevereiro 2012
Passarinho no Peito
tenho um passarinho no peito
um tímido sorriso sem jeito
carrego comigo trezentos defeitos
vivo os dias a me refazer
.
semeio palavras escritas
rasgo sem dó as histórias perdidas
cicatrizo as velhas feridas
remoldo a vida no papel machê
.
de cabelo solto no vento
caminho na beira da linha do tempo
cantarolando livre eu não penso
em nada além do querer
.
carimbo na testa o seu rosto
guardo na boca o seu gosto
o seu jeito é o meu melhor oposto
no meu coração só cabe você
um tímido sorriso sem jeito
carrego comigo trezentos defeitos
vivo os dias a me refazer
.
semeio palavras escritas
rasgo sem dó as histórias perdidas
cicatrizo as velhas feridas
remoldo a vida no papel machê
.
de cabelo solto no vento
caminho na beira da linha do tempo
cantarolando livre eu não penso
em nada além do querer
.
carimbo na testa o seu rosto
guardo na boca o seu gosto
o seu jeito é o meu melhor oposto
no meu coração só cabe você
'Passarinho no Peito' | nanquim + texturização digital | texto 2012 | ilustração 2012 Ouça 'Passarinho no Peito' aqui: |
29 janeiro 2012
15 janeiro 2012
Me Absorva
Me dê seu coração
para eu esmagá-lo entre os dedos.
Entregue-me ainda pulsando.
Se entregue tremendo de medo.
Derreta dentro e fora de mim...
Me absorva
que hoje eu tô transparente, rapaz.
Minta,
diga que não quer ninguém nunca mais.
.
Devoro esse sorriso
que ri junto com o olhar.
Uma chuva de sonhos fura o meu guarda-chuva.
- Deixe essa água me molhar!
Não quero toalha,
quero que só você me absorva,
que hoje eu tô sua demais.
Quero que minta.
Me diga que pra sempre a gente se refaz.
para eu esmagá-lo entre os dedos.
Entregue-me ainda pulsando.
Se entregue tremendo de medo.
Derreta dentro e fora de mim...
Me absorva
que hoje eu tô transparente, rapaz.
Minta,
diga que não quer ninguém nunca mais.
.
Devoro esse sorriso
que ri junto com o olhar.
Uma chuva de sonhos fura o meu guarda-chuva.
- Deixe essa água me molhar!
Não quero toalha,
quero que só você me absorva,
que hoje eu tô sua demais.
Quero que minta.
Me diga que pra sempre a gente se refaz.
''Me Absorva' | nanquim + texturização digital | texto 2012 | ilustração 2012 Ouça 'Me Absorva' aqui: |
11 agosto 2011
Apneia
sob o leve torpor do sol
caminho beirando o mar
na areia vou despindo
as noites torpes que me esconderam
canto versos desmedidos
frases duras
para fases amargas
o som consoante
impregna em mim
quisera arrancá-lo de dentro
quisera botá-lo pra fora
faço pose de calada
mas berro pro mundo
e berro agora
um mergulho e não ouço mais
nem silêncio, nem barulho
o oceano nada entre os meus dedos
salgo a pele, molho tudo
escondo os arrepios
que me ferem a pele
afogo-me nas ilusões
do que temo verdadeiro
o mar apaga as minhas pegadas
o breu apaga o meu corpo inteiro
caminho beirando o mar
na areia vou despindo
as noites torpes que me esconderam
canto versos desmedidos
frases duras
para fases amargas
o som consoante
impregna em mim
quisera arrancá-lo de dentro
quisera botá-lo pra fora
faço pose de calada
mas berro pro mundo
e berro agora
um mergulho e não ouço mais
nem silêncio, nem barulho
o oceano nada entre os meus dedos
salgo a pele, molho tudo
escondo os arrepios
que me ferem a pele
afogo-me nas ilusões
do que temo verdadeiro
o mar apaga as minhas pegadas
o breu apaga o meu corpo inteiro
''Apneia' | nanquim + canetinha + sobreposição digital | texto 2011 | ilustração 2007 Ouça 'Apneia' aqui: |
07 julho 2011
Perfume
aquela rua estava com um aroma
vagamente familiar
senti o teu cheiro de longe
farejei-te no ar
tomou-me leve embriaguez
ao lembrar de nós dois
e do teu perfume francês
a leveza daquela tarde
varrida por uma brisa tão suave...
aquela música que tocava...
o meu coração descompassado...
fora de quadro
fora da lei
ah, esse perfume...
ah, como eu te amei.
vagamente familiar
senti o teu cheiro de longe
farejei-te no ar
tomou-me leve embriaguez
ao lembrar de nós dois
e do teu perfume francês
a leveza daquela tarde
varrida por uma brisa tão suave...
aquela música que tocava...
o meu coração descompassado...
fora de quadro
fora da lei
ah, esse perfume...
ah, como eu te amei.
'Perfume' | nanquim + lápis de cor + vetor + sobreposição digital | texto 1998 | ilustração 2011 Ouça 'Perfume' aqui: |
01 julho 2011
Bumerangue
sussurro seu nome
os lábios se movimentam
suaves
você aparece
me chama
faz pose
e é lá dentro
bem lá dentro
que se ouve
só o vento
traz você de volta
(ecoa meus pensamentos)
você só veio
brincar de bumerangue
meu coração tolo
um dia se zanga
e arranca essa paixão
ah, ainda me livro
aí eu quero ver
você brincar
brinca...
brinca...
então eu brincarei de ser livre
mas é lá dentro
bem lá dentro
que você vive
'Bumerangue' | nanquim + canetinha + sobreposição e colagem digital | texto 1996 reeditado | ilustração 2007 Ouça 'Bumerangue' aqui: |
22 junho 2011
Pelo Lixo Pela Lama
arrancas a mais profunda lágrima
dos olhos de quem te ama
arrastas pelo lixo
arrastas pela lama
o coração que já fora teu
quisera ele também não fosse meu
Ouça 'Pelo Lixo Pela Lama' aqui: |
17 junho 2011
Tolos
enquanto todos riem
[talvez de mim]
eu soluço escondido
depois me viro
e dou gargalhadas
[talvez deles]
todos me olham
me chamam de louco
e vêm em minha direção
[talvez contra mim]
somos todos tolos
um todo
aprendendo a viver
[talvez de mim]
eu soluço escondido
depois me viro
e dou gargalhadas
[talvez deles]
todos me olham
me chamam de louco
e vêm em minha direção
[talvez contra mim]
somos todos tolos
um todo
aprendendo a viver
'Tolos' | nanquim + colagem e sobreposição digital | texto 1998 | ilustração 2011 Ouça 'Tolos' aqui: |
10 junho 2011
Meu Céu
às vezes sou passarinho
voando livre pelas curvas do mundo
pouso breve na nuvem drapeada
debaixo, um caçador à espreita
com sua pontaria afiada
certeira
rasgando o céu no meio
um tiro que sangra no ar
meu infinito que acaba
nunca chegarei
meu céu é lá
voando livre pelas curvas do mundo
pouso breve na nuvem drapeada
debaixo, um caçador à espreita
com sua pontaria afiada
certeira
rasgando o céu no meio
um tiro que sangra no ar
meu infinito que acaba
nunca chegarei
meu céu é lá
'Meu Céu' | nanquim + colagem e sobreposição digital | texto 1998 | ilustração 2008 Ouça 'Meu Céu' aqui: |
02 junho 2011
Silêncio!...
Silêncio!...
Ouça as estrelas
cavalgando
nesta noite de prantos
E sinta a brisa
nua
acariciando o seu corpo
sob a luz da lua
O seu leite branco
derramando
os sonhos distantes
da donzela louca
Silêncio!...
Silêncio!...
Ouça as estrelas
cavalgando
nesta noite de prantos
E sinta a brisa
nua
acariciando o seu corpo
sob a luz da lua
O seu leite branco
derramando
os sonhos distantes
da donzela louca
Silêncio!...
Silêncio!...
'Silêncio!...' | grafites + sobreposição e texturização digital | texto 1997 | ilustração 1999 Ouça 'Silêncio!...' aqui: |
26 maio 2011
Peixe Fora D'água
20 maio 2011
Desafogo
Seria sua aquela metade
ali descartada e toda quebrada?
Tenho notado a sua ausência em mim
Quantos cacos ainda restam
do tal amor irreciclável?
Me consomem risadas nervosas
e soluços insatisfeitos
Cadê você aqui no espelho
quando temo o meu oposto?
(não vejo o seu rosto)
Quisera não teimasse
vaguear minha lembrança
Pode apontar-me o caminho?
Eu vou para o outro lado
Rumo ao longe...
distante do nada
'Desafogo' | nanquim sobre papel reciclado + sobreposição e pintura digital | texto 2011 | ilustração 2011 Ouça 'Desafogo' aqui: |
13 maio 2011
Fornalha
Boto a cara no forno
Não tenho nada a perder
Com a cabeça quente
eu me vejo
mas falta você
Desgastada em tanto calor
queimo consumida em chamas
Grito, explodo, choro
Você diz que não me ama
Não tenho nada a perder
Com a cabeça quente
eu me vejo
mas falta você
Desgastada em tanto calor
queimo consumida em chamas
Grito, explodo, choro
Você diz que não me ama
'Fornalha' | nanquim sobre papel reciclado + sobreposição e pintura digital | texto 2011 | ilustração 2011 Ouça 'Fornalha' aqui: |
05 maio 2011
27 abril 2011
Noturna
Debruçou-se sobre o cálice de vinho
que tinto escorreu pelo seu corpo
Cada curva circundava suas veias
Pulso a pulso titubeava verdades perfeitas
Olhava pela fresta com o verde que ensaiava tenso
Nua, se vestia com o meu abraço lento
Num choro quieto, sorriu entre feridas
Perguntou meu signo, falou de arte e contou como levava a vida
Seu olhar vagueava pela sinfonia estreita
Meu corpo permanecia fechado a ideias mal feitas
Seu deslumbre
um papo
o lençol manchado
Cada viagem interna era um assunto calado
A noite percorreu cegando
À lua, o sono veio germinar o acalanto
Deitou-se no meu colo sem pensar em mais nada
14 abril 2011
Amarílis
{ à estátua colorida
que há cem anos dormia
e acordou sem sua cor }
'oh, que susto!', ela pensou
despertou em preto e branco
desolada, estava aos prantos
e bem baixinho sussurrou
'encontrarei o malfeitor...'
desbotaram-lhe as bochechas
a pintura dos seus olhos
e o batom cor de cereja
já não tinha qualquer viço
e nem as flores no cabelo
sumiu-lhe até o brinco!
chorava, chorava...
quem roubou seu arco-íris
ó, estátua tão bonita
minha doce amarílis?
procurou pelas estrelas
nos brinquedos, guloseimas
no oceano, nas gavetas
até nos potes de aquarela
e nada de achar as cores dela
foi até num picadeiro
na arena viu de tudo
malabares, bailarinas
e um palhaço bem matuto
encheu-se de esperança
e ao encontro do mágico
perguntou sem relutância
'há cores dentro da sua cartola?'
ele debochou e nem deu bola
desgostosa e descontente, parou na livraria
perguntou para a atendente
'aqui vende livros, não vende?'
a moça logo notou sua triste fisionomia
folheou livro por livro
admirou cada desenho
se encantou com o colorido
esfregou na sua pele
mas não teve desempenho
cansada de ziguezague
refastelou-se sob uma árvore
avistou um fotógrafo inerte
curiosa, deu-lhe boa tarde
ele sorriu desajeitado
ela achou graça do seu jeito
mas não hesitou em tirar proveito
'moço, você me tira um retrato?'
e no clique do obturador
ela imaginou de volta a sua cor
mas ao ver sua fotografia
foi-se qualquer resquício de alegria
olhou bem o pedaço de papel
passarinhos amarelos, outros cor de mel
rosas e violetas esparramadas pelo chão
mas as cores da coitada, ali não estavam não
exausta, continuou sua andança
chegou a uma casinha bem modesta
ficou feliz que nem criança
'ah, um aconchego no meio da floresta!'
entrou sem nenhuma cerimônia
deparou-se com um homem sério
maltrapilho, bigodudo e usava boina
ele achou a invasão um baita despautério!
ela contou sua história
ele achou tudo muito estranho
mas dos seus olhos castanhos
uma lágrima caiu quase simplória
ofereceu-lhe o seu ofício
'sou pintor, olha pra isso!'
mostrou-lhe um arsenal de tintas
ela riu, riu, riu...
como sempre estava linda
(mesmo assim, descolorida)
pediu ao pintor as cores da sua paleta
'por favor, começa pintando a minha cabeça?'
e o artista pincelou sua bochecha
devolveu à sua boca a cor de cereja
fez o brilho do cabelo reaparecer
pintou os seus olhos coloridos
tão astuto, refez até seu brinco
pois moldava muito bem o papel machê
assim, o malfeitor era só uma lembrança
ela passou a achar besta aquela ideia de vingança
voltou para onde sempre viveu
subiu em seu pedestal, lá naquele antigo museu
então cercou-se de mil cores latentes
vestiu as suas roupas prediletas
e foi visitada por muita gente importante
dentre tantos, o mágico, o pintor e o poeta
viveu ali para todo o sempre
bem mais bonita do que antes
'Amarílis' | fotografia (Fernando Bernardes) + colagem digital | texto 2011 Ouça 'Amarílis' aqui: |
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