Aquele pé quebra no galho,
o nosso pé brota nas mãos.
Dedos enlaçados num amor-chocalho,
apertados numa multidão de nervos.
É o pé do amor, este (olham-se nos dedos)
que nasce e cresce sem medo.
.
O pé nas mãos germina cedo,
nasce um botão de zelo, para cuidar.
Colorido da diferença dos nossos temperos
num assimétrico coração aberto,
que agora diz, me jurando que é sério:
'Ocupado, coração sem espaço'.
O sorriso é largo, eu mostro os dentes fácil
(ele fita seus dentes e faz ar de mistério).
.
No riso, tiro a sandália e ando descalço na terra.
As cortinas de chita voam, bonitas,
nas casas que estão com a janela aberta.
O pé tá nas mãos, enraizado pós-primavera.
.
Plantados numa multidão de areia e mar,
com chão de pedra, pro cavalo galopar,
você me pede: 'Segura forte minha mão,
não solta nunca mais,
temo a falta que você me faz'
(eles se abraçam bem debaixo do baobá).
'Não censuremos nossas asas',
digo, com o dedo encaixado no seu umbigo.
A gente se beija, eu fico sem ar.
.
Rega de calor, para o pé não secar,
refresco de fim de tarde (olham-se nos passos).
'Me espreme forte entre seus braços'.
Com o pé do amor crescente à lua,
minha vergonha declara em segredo:
'Serei pra sempre seu melhor avesso,
sou pra sempre sua'.
.
(Dão-se as mãos, engalhadas num monte de raízes).
.
Da vontade de ser todo dia um sempre começo,
seguem uma vida toda naquelas ruas.
Levam na bagagem aconchegos, corações e cicatrizes,
umas minhas, poucas nossas, outras suas.
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